Cashback, crônica delicada.

E esta surpresa me chegou através de algumas indicativas de filmes dadas por um grande amigo e irmão chamado Isac Sena, dentre estes que comentarei cada em seus devidos posts futuros, ou pelo menos referências dos mesmos. E dentre esses está o Cashback(2006).
A primeira vista uma estética já conhecida para que se diverte com filmes europeus, pouco ambicioso até para as produções pequenas blockbusters que somos bombardeados nessas últimas décadas. E isso é, para quem gosta, parte do brilhantismo dessas obras independentes. O filme trata sobre a vida de um estudante de artes Ben Willis(Sean Biggerstaff)sendo largado por sua namorada Suzy(Michelle Ryan) e inicia uma saga para livrar-se da dor da separação, tentar esquecer de Suzy por assim dizer, e de brinde Ben adquiri uma sofrível insônia que o leva a viver sem dormir por longos dias. No desenvolver dessa saga de insônia e amargura ele decide fazer algo mais útil do seu "extendido" tempo e consegue um emprego noturno em um supermercado de uma grande rede. É então que o fantástico(elemento) da história ocorre, ele se descobre capaz de congelar o tempo e observar a beleza da vida através disso. E essa é a levada do filme.
Nesse filme há diversas técnicas de narrativa interessante assim que o abuso do ponto de vista do personagem Ben, como por exemplo público fica alienado aos argumentos da briga inicial na qual Suzy e Ben se separam por conta de sermos carregados pelas reflexões de Ben e suas lembranças justificando sempre os seus pontos de vista e a montagem dos argumentos pela linha do tempo de sua própria existência - algo realmente monstruosamente complicada de ser fazer em um filme pequeno - mas Sean Ellis, o diretor-produtor-roteirista consegue! e faz bem!
Um exemplo dessa maestria na narrativa e friamente se calcularmos por exemplo a dose de empatia que criamos com Ben, que devida as circunstância basicamente poderiamos indicar o velho chavão: - "nada como um novo amor para curar um perdido" ou uma boa noite com outra garota para resolver os problemas. Mas o Sean Ellis(quanto roteirista) brinca jogando entre o problema amoroso e uma crise existencial e não conseguimos tão facilmente argumentar friamente ou simplificar os problemas de Ben. E flutuamos entre empatia e curiosidade sem cogitar seriamente por pena ao seu personagem - e isso em uma sociedade fria e imediatista não é fácil.

Por várias razões me peguei no filme sempre com o nome Still Life, trabalhos artísticos baseados em objetos inanimados, apesar do objeto de estudo de Ben ser sempre pessoas(seres vivos)o modo como capta as imagens e a sensação que me transmitiu é a mesma destes trabalhos. Talvez(tenho quase certeza) de Cashback seja uma espécie de homenagem ao amor que Sean tem pelos filmes, uma vez narrado por eles mesmo em entrevista(vide links no final do post) que iniciou-se na arte através da fotografia e logo então ao movimento. Mas me limito a dizer que isso são impressões - da arte não passo de admirador, que fique a cargo de seus estudantes análises mais profundas. Talvez inclusive conhecer outras obras de Sean.
Outro ponto bastante interessante é o quão a admiração da beleza por parte de Ben nos é transmitida, sem dúvidas que essa manifestação através do corpo feminino é bastante compreendido pela público masculino de forma bastante consistente, mas tenho minhas dúvidas que a mensagem geral tenha sido transmitida com mesma eficiência ao público feminino pelos signos utilizados. De forma que com as técnicas utilizadas podemos admirar conhecer mais de uma beleza estranha ao eixo mainstream, uma beleza européia. E por ultimo como tudo isso pode ser condensado em uma só pessoa, talvez o que muitas obras tentem explicar como "amor perfeito".
Não era para menos também, o filme foi uma versão extendida de um curta de mesmo nome, usando inclusive as mesmas filmagens gravadas, que foi indicado ao Oscar de melhor curta-metragem em 2006 e que levou outros prêmios em festivais independentes com Festival de Bermuda e de San Sebastian.
Links:
Entrevista com Sean Ellis: http://www.zetafilmes.com.br/interview/ellis.asp?pag=ellis
Comentários
Um filme muito gostoso de assistir, despretensioso, doce...
Será que ele realmente congelava o tempo, ou tudo era fruto da imaginação de quem passou impossíveis semanas privado de seu sono, por conta da decepção e do trauma causados pela perda de seu primeiro amor. (Nada e nem ninguém pode ser responsável por fazer vc feliz. Quer algo mais simplista...)
Mas ele não estava apaixonado pela Suzy, paixão era outra coisa, ele a amava...
Ou não era amor... Era apenas uma paixão... Mas não a primeira paixão... Em fim... Quem já se apaixonou e amou entende como duas coisas podem ser tão parecidas e tão diferentes... O que sabemos com certeza é que as duas causam dor quando chegam ao fim... É como ser esmagado (Crush)... Ben aprendeu a lição...
Bem verdade que um segundo muda tudo... principalmente se for o segundo errado... Nem o super-poder de congelar o tempo pode dar jeito... Nada pode mudar o que já foi dito e feito... C'est la vie!
Mudando de assunto (embaralhei tudo...rs)
Olha só... É de se admirar o homem (Sean Ellis) que escreve, produz e dirige um filme onde mulheres aparecem nuas sem ter a nudez explorada sexualmente e gratuitamente. Ao invés disso ele escolheu admirá-las da forma mais pura, inocente e direta, contemplando simplesmente a beleza em si... Indo da perfeição a mais perfeita imperfeição (um pouco além da nossa realidade), se é que você me entende... É como se vislumbrar com uma linda paisagem em um dia chuvoso... A chuva que escurece a paisagem é só um toque a mais... O amor é assim... perfeito mesmo quando imperfeito...
Kisses and hugs!